A Serra é um convite à contemplação, vales verdes, parreirais a perder de vista, gastronomia farta e vinhos que encantam o paladar. A Terra do Galo, com suas rotas turísticas e acolhimento caloroso, conquista cada vez mais visitantes. Contudo, quando o sol se põe, a experiência turística parece perder força.
Durante o levantamento realizado em dois hotéis da cidade no último final de semana, a principal queixa dos turistas foi a falta de opções noturnas. Restaurantes que fecham cedo, poucas alternativas de lazer e ruas vazias ao entardecer surpreendem quem chega com expectativa de prolongar o roteiro além do horário comercial.
— Viemos para Flores como refúgio da vida agitada da capital. Os vinhos são de fato excelentes, a paisagem e a tranquilidade são pontos a se destacar, mas estivemos no Centro e o comércio está quase todo fechado. Estranhamos uma cidade turística assim — comenta José Antônio Frigoto, 56 anos, empresário de Porto Alegre, que veio com a esposa e os dois filhos conhecer a região.
A percepção dele não é isolada. A repetição da queixa em diferentes perfis de turistas (casais, famílias, grupos de amigos) revela um vazio na programação noturna, mesmo em períodos de maior movimento, como os fins de semana e a temporada de inverno.
— A gente achou a cidade sem muita opção noturna. Algumas vinícolas também estavam fechadas. O que acontece é que muitas fazem festas particulares nas vinícolas e aí fecham mais cedo, mas não divulgam isso no roteiro delas. A gente saiu lá de Porto Alegre para vir numa vinícola aqui que tinha degustação, porém, está tendo uma festa lá. Também queríamos um restaurante com música ao vivo, mas não tem, que é algo que a gente curte. Até pensamos em ir a Caxias do Sul, mas estava uma tranqueira na estrada e desistimos — relatou o comerciário porto-alegrense Emerson Oliveira, de 50 anos.
Roteiro termina cedo
Essa lacuna no atendimento não é novidade. Pelo contrário, é um dilema citado há anos pelo trade turístico. Inclusive, há empreendedores que tentam consolidar um negócio capaz de suprir esse espaço. Um exemplo é Leonardo Curra, CEO do clube Vinhos Nacionais, que acompanhou de perto a carência de atrações para o período da noite e decidiu agir.
— Temos clientes de diversas partes do Brasil que vêm conhecer a nossa região, e realmente percebemos essa lacuna, especialmente antes da abertura do nosso Wine Bar. Por diversas vezes, organizamos programações em nossa própria residência para receber turistas que buscavam algo além do horário comercial. Isso reforçou ainda mais a nossa convicção de que Flores da Cunha precisava de espaços que complementassem a experiência enoturística — relata.
Curra reconhece que o setor já está em movimento para ampliar a oferta turística, mas destaca que esse processo demanda tempo e dedicação por parte de todos os envolvidos.
— Acredito que as vinícolas já vêm investindo há algum tempo no enoturismo e a evolução é visível. É um processo gradual, que exige muito trabalho e planejamento.
Tiago Mignoni, secretário de Desenvolvimento Econômico, Turismo, Cultura e Inovação, afirma que já existem iniciativas para melhorar a comunicação com quem visita a Terra do Galo.
— Estamos em fase de implantação de novas estratégias, como a qualificação das equipes de postos de combustíveis, que são postos-chave de contato com quem chega ao município. A intenção é fortalecer cada vez mais a rede de acolhimento, tornando a experiência do turista mais completa e acessível — pontua Mignoni.