Com a adesão formalizada por ao menos 17 municípios, o projeto do sistema Antigranizo para a Serra entra em uma nova etapa decisiva: a formação do grupo de trabalho técnico que busca por recursos junto ao governo do Estado. Após meses de articulação e discussões entre prefeituras, sindicatos e entidades do setor agrícola, a região caminha para implementar esta proteção climática coletiva já para a próxima safra da uva.
O projeto foi idealizado pela Prefeitura de Caxias do Sul, por meio de sua Secretaria Municipal da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, que buscou informações com a empresa catarinense AGF Antigranizo Fraiburgo. Flores da Cunha e Nova Pádua tiveram adesão imediata e, com o passar das reuniões, começaram a assumir o protagonismo das conversas com outras prefeituras.
Na última reunião, em Caxias, ficou definido que o custo anual de manutenção da operação será dividido conforme a área de cada município. Flores da Cunha, com um terreno de 276 km², terá que arcar com um repasse estimado em R$ 514.389,23. Já Nova Pádua deverá desembolsar cerca de R$ 191.964,09 para cobrir os seus 103 km² de área protegida.
O interesse pelo sistema, que é inspirado em um modelo já em execução em Santa Catarina, é grande, contudo as conversas se arrastaram por falta de algo mais concreto. Por isso, no encontro do último sábado (10), um grupo de trabalho foi criado para buscar uma formalização, feita por meio de ofício, da participação das prefeituras.
Com os 17 municípios projetados para formar o consórcio, conforme estabelecido em reuniões anteriores, uma área total de 5.215 km² estaria protegida contra os impactos do granizo.
— Desses 17 municípios que aceitaram a proposta do projeto, os que oficializaram mesmo a participação via ofício são oito. Nós fizemos uma estimativa de custo do que cada município precisaria para bancar o sistema. Na última reunião que tivemos com o Governo do Estado, eles se comprometeram a ajudar no custo da implantação, que são cerca de R$ 5 milhões. Nós iremos à Porto Alegre nos próximos dias para discutirmos questões ambientais — explica Ricardo Pagno, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Agricultores Familiares (STR) de Flores da Cunha e Nova Pádua, que integra o grupo de trabalho pelo Antigranizo.
A preocupação com os impactos de longo prazo das intempéries sobre a produção agrícola tem sido um dos principais argumentos dos defensores do projeto, especialmente em regiões de tradição vitivinícola.
— Embora existam seguros agrícolas que ajudam a amenizar os prejuízos financeiros imediatos, os danos causados às parreiras têm impactos que ultrapassam uma única safra. Muitas vezes, as plantas danificadas levam tempo para se recuperar totalmente, comprometendo a produção futura e afetando diretamente a sustentabilidade da atividade vitivinícola — destaca o secretário de Agricultura de Flores da Cunha, Jamur Mascarello.
Durante a abertura da 5ª edição da Wine South America, em Bento Gonçalves, o prefeito César Ulian reforçou o protagonismo de Flores da Cunha ao participar de uma reunião com o vice-governador Gabriel Souza. O encontro, promovido por membros do Consevitis-RS, teve como pauta central a possibilidade de destinar recursos do Fundo Vitis (voltado ao setor da uva e do vinho) para viabilizar a implementação do sistema nas cidades interessadas.
— Essa é uma medida muito aguardada por nossos agricultores que enfrentam os prejuízos causados por eventos climáticos. Ter o apoio do Estado nos anima, porque facilitará a implementação do sistema antigranizo, reforçando o compromisso do poder público com a proteção das lavouras, com a segurança alimentar e com a sustentabilidade da economia rural — afirmou o prefeito Ulian na ocasião.
Tecnologia com exemplo catarinense
O sistema que deve ser implementado é desenvolvido pela AGF Antigranizo Fraiburgo, com mais de 30 anos de experiência em Santa Catarina. Utilizando geradores terrestres que queimam iodeto de prata, a tecnologia interfere na formação do granizo, reduzindo seu tamanho ou eliminando as pedras antes que toquem o solo. Para saber quando ligar o equipamento, é utilizada uma estação climática que monitora as nuvens carregadas.
A proposta foi bem recebida por sindicatos, produtores e secretarias municipais. Apesar do avanço, o desafio agora é garantir os recursos necessários. Os valores vão variar um pouco conforme o número de municípios envolvidos, mas a estimativa é que o custo de instalação seja de R$ 5 milhões e o custo operacional anual de cerca de R$ 9 milhões, divididos proporcionalmente entre os municípios conforme a área de cobertura. A ausência de grandes empresas patrocinadoras, como no modelo catarinense, obriga os municípios gaúchos a buscarem apoio do Estado.
Outro ponto em discussão é a viabilidade ambiental. A Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam-RS) já sinalizou positivamente, condicionando o andamento à elaboração de um plano de monitoramento por laboratórios credenciados.
— Agora que temos a adesão dos municípios, o foco é garantir os recursos. A agricultura da Serra precisa de proteção. Não se trata apenas de frutas, mas de manter a economia rural viva, a segurança alimentar e a renda de centenas de famílias — declara Rudimar Menegotto, secretário de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Caxias do Sul.