A primeira edição da Operação Terra Forte contemplou 52 produtores rurais em Flores da Cunha e 20 em Nova Pádua. Cada agricultor poderá receber até R$ 30 mil para a recuperação de solo em três eixos: produtivo, social e ambiental, conforme planejamento com a Emater/RS.
A iniciativa do Governo do Estado foi alinhada após a catástrofe climática do ano passado. O objetivo é fortalecer a agricultura familiar promovendo a recuperação e a conservação dos solos afetados por eventos climáticos, com base em práticas mais sustentáveis, inovação tecnológica e apoio técnico nas propriedades.
O secretário de Agricultura Jamur Mascarello destaca a grande procura de agricultores florenses pelo apoio: foram 95 inscritos. Ele considera a Operação Terra Forte uma importante iniciativa diante dos custos de produção cada vez mais elevados e a insegurança cada vez maior dos agricultores com os eventos climáticos.
— Muitos agricultores (95) se inscreveram porque foram afetados pelas chuvas de 2024 e precisam melhorar o solo, tanto na parte de fertilidade quanto na de proteção, com práticas como a cobertura de solo. O programa também permite investimentos que trazem benefícios sociais e ambientais, o que acaba ajudando a comunidade como um todo — avalia.
A seleção dos 52 contemplados foi feita pelo Conselho Municipal da Agricultura (CMA) no final de outubro.
— Foram observados aspectos como a necessidade de recuperação do solo nas propriedades, a proporção e a diversidade das culturas contempladas, além do protagonismo jovem e feminino na gestão das unidades produtivas. Também foi considerado o fato de a família residir na propriedade, a disposição dos beneficiários em adotar novas tecnologias e seguir as orientações da assistência técnica, bem como o cumprimento das contrapartidas previstas — explica o presidente do CMA, Ismael Fortunatti.
Uma das preocupações foi garantir uma distribuição territorial equilibrada, de modo que todas as regiões do município fossem contempladas.
— Outro ponto avaliado foi a participação dos produtores em eventos e a disponibilidade da unidade produtiva em atuar como referência para outras propriedades. Por fim, após a aplicação de todos esses critérios técnicos, foi realizado um sorteio para definir a ordem de contemplação dos selecionados — conclui Fortunatti.
A engenheira agrônoma da Emater, Clarissa de Quadros, revela que o próximo passo é encaminhar a listagem com os nomes para a Secretaria de Desenvolvimento Rural (SDR), para publicação no Diário Oficial.
— Em breve serão feitas as visitas para realizar o diagnóstico e o Plano Individualizado de Ações Integradas de cada propriedade selecionada. Nessas visitas será identificado onde o agricultor necessita investir. Somente após o diagnóstico é que podemos definir as práticas que deverão ser adotadas, materiais que serão adquiridos, serviços necessários e definir o cronograma de implementação das ações planejadas. O período para utilização do recurso será de 12 meses com a devida prestação de contas — detalha Clarissa.
Os beneficiários foram divididos e serão contemplados em três etapas, que devem ocorrer a cada três meses.
“Tivemos um problema sério com a enchente”
Um dos beneficiados pela Operação Terra Forte em Flores da Cunha é o agricultor Elcio Kosvoski, 40 anos. Morador da comunidade de Lagoa Bela há três décadas, Kosvoski se dedica ao cultivo de uva das variedades Isabel e Bordô (4,5 hectares) e tomate (meio hectare).
O produtor soube da Operação Terra Forte por meio do grupo de WhatsApp no qual a Emater repassa diversas informações, e decidiu se inscrever.
— Tivemos um problema sério com a enchente. Aqui no fundo eu tenho mais um hectare e pouco de Isabel e ali deu um desmoronamento, desceu toda a terra até quase na metade do morro. A terra veio para baixo, fez “barrancos” e pegou bem no meio do meu parreiral. O deslizamento empurrou o parreiral meio metro para baixo. Tinha água que nascia lá e sumiu, trocou de lugar. Rachou todo o solo e a fila do parreiral de 2,4 metros ficou com menos de 2 metros. Estreitou, a terra encolheu. Fez vários valos bem fundos e acho que deu uns 500 metros de rachadura. Se a terra desce mais, acaba com tudo — detalha Kosvoski.
Para resolver temporariamente o problema, o agricultor precisou cortar todos os arames da parreira, esticar os cordões e refazer as “fileiras” com a máquina.
— Foram feitas algumas coisas para ver se segura a erosão e agora com esse programa (Terra Forte) quero fazer mais coberturas de solo. Já fiz alguma coisa, mas não foi o suficiente. Quero semear nabo ou aveia porque eles não deixam a água “lavar o solo”. Eu vou plantando embaixo do parreiral porque aí contém a terra. Essas coberturas de solo, como chamam, seguram o solo e no dia que elas caem, porque elas tombam, formam uma camada que também vai servindo para adubo — planeja Kosvoski, projetando que o recurso virá em cerca de quatro meses e possibilitará semear o nabo e a aveia na época mais propicia, que é em meados de maio.
O produtor explica que a análise do solo é o primeiro passo do programa e que é uma medida importante para saber quais nutrientes a terra precisa:
— Muitas vezes a gente vai jogando adubo, mas não sabe o que ela (terra) precisa. O solo pode estar cheio de uma coisa que não tem necessidade — destaca.
O morador de Lagoa Bela, que conta com a ajuda do sogro Augusto Kosvoski, 76, e da esposa, Susana Breginski, 36, na propriedade, considera o programa um incentivo para o agricultor. Em meio a tempos difíceis, onde os jovens optam por sair do interior, a iniciativa “anima um pouco” quem trabalha com a agricultura.

