Planejar o turismo com base em dados confiáveis e não em suposições. Cruzar informações, identificar tendências e agir com precisão. Foi com esse propósito que foi lançado o Observatório do Turismo da Serra Gaúcha, uma plataforma que promete transformar a forma como os 49 municípios da região, incluindo Flores da Cunha e Nova Pádua, pensam e estruturam suas políticas públicas para o setor.
A iniciativa é fruto da parceria entre o Corede Serra e a Universidade de Caxias do Sul (UCS). O Observatório funciona como uma plataforma online gratuita onde é possível acessar informações detalhadas sobre o fluxo de turistas, perfil dos visitantes, comportamento de consumo, desempenho de atrativos e sustentabilidade dos destinos.
— Nosso objetivo foi criar uma ferramenta acessível que integre dados confiáveis e atualizados para embasar as decisões do setor. Ao compartilhar uma base comum de informações, os municípios e empreendimentos poderão alinhar estratégias e agir com maior eficiência — explica o professor Michel Bregolin, coordenador do projeto.
Na Terra do Galo, a novidade é vista com expectativa. O presidente da rota turística Otávio Rocha Vila Colonial, Michael Molon, avalia que os indicadores podem ajudar a compreender o comportamento dos visitantes.
— Saber a idade, de onde vem e por que nos visita pode mudar bastante a forma como trabalhamos. Se for um público mais jovem, podemos apostar em eventos diferentes e experiências mais modernas. Se for um público familiar, dá para investirmos em atividades acolhedoras, comida típica e lazer. Também dá para direcionar a divulgação para as regiões de onde vêm mais visitantes — afirma Molon.
Na mesma linha, o secretário de Desenvolvimento Econômico, Turismo, Cultura e Inovação, Tiago Mignoni, ressalta o potencial do Observatório para orientar políticas.
— Com a ferramenta, temos indicadores atualizados sobre o perfil dos visitantes, o desempenho da atividade econômica ligada ao turismo e o fluxo turístico da nossa região. São informações essenciais para compreender quem nos visita, de onde vem, quanto tempo ficam, o que consomem e o que buscam na nossa cidade. Poderemos mapear oportunidades e potencializar os diferenciais de Flores — acredita.
A avaliação também é compartilhada pelo setor empresarial. O presidente do Centro Empresarial, Gilberto Boscato, vê na iniciativa uma oportunidade de maior competitividade do setor.
— O Observatório foi lançado recentemente e ainda temos poucas definições sobre como funcionará na prática. Mas, a proposta apresentada já indica um avanço importante que é organizar dados, integrar os municípios e oferecer ferramentas de inteligência. Se bem estruturado e alimentado de forma contínua, pode se tornar um grande aliado no planejamento regional e no fortalecimento da competitividade da Serra no turismo — opina.
A plataforma concentra informações em cinco ferramentas:
- Turismômetro: reúne dados quantitativos sobre o fluxo de turistas em eventos, empreendimentos e roteiros.
- Identidade: detalha o perfil dos visitantes, como idade, origem e motivação da viagem.
- Destino 360º: oferece um panorama dos municípios em áreas como infraestrutura, sustentabilidade e acessibilidade, baseado em diretrizes da Organização Mundial do Turismo.
- Geotur: permite acessar informações por meio de um mapa interativo, facilitando a visualização territorial.
- NID ODITT: conecta a plataforma a outros estudos e bases de dados da UCS.
“Força para mostrar o valor dos eventos”
Lançado em 15 de julho, o site do Observatório do Turismo da Serra Gaúcha já disponibiliza alguns módulos em funcionamento, enquanto outros terão implantação em etapas, pois dependem da mobilização de prefeituras, entidades e empreendedores.
— A estrutura está toda pronta, mas a alimentação será gradual dentro deste mês, pois são dados diferentes de fontes diferentes. Na semana retrasada, realizamos capacitação com prefeituras e entidades para alimentação do Geotur e, na próxima, teremos uma nova com o mesmo público sobre o Identidade. Este módulo será alimentado de acordo com o uso do sistema pelas prefeituras e entidades, eventualmente por pesquisas que façamos sobre perfil de demanda vinculadas a pesquisas acadêmicas — detalha o coordenador Michel Bregolin.
O professor da UCS explica que cada ferramenta terá um modelo próprio de atualização.
— O Turismômetro, que é mais complexo, será implementado aos poucos por tipo de atividade (hospedagem, atrativos, alimentação e eventos) conforme os parceiros locais (prefeituras e entidades) estejam disponíveis e prontos para mobilizar os empreendedores a eles vinculados.
Outro ponto central para a efetividade da plataforma é a participação do setor privado:
— Os empreendedores terão acesso exclusivo à plataforma para registro e consulta dos seus dados de maneira sigilosa. Quanto mais frequentes e precisos forem os lançamentos, mais terão assertividade nos dados que a plataforma retornará para eles com seus contextos de atuação, localização ou articulação comercial — ressalta Bregolin.
Gilberto Boscato destaca que ainda há aspectos a serem melhor esclarecidos, mas que algumas ferramentas já demonstram potencial.
— Embora ainda falte maior detalhamento sobre a aplicação das ferramentas, algumas funcionalidades anunciadas parecem especialmente promissoras para Flores. Se confirmadas na prática, essas soluções tendem a apoiar a promoção do destino e o alinhamento de estratégias. Embora ainda não tenhamos informações consolidadas sobre o processo de alimentação e uso dos dados, a expectativa é que a base ofereça informações confiáveis e comparativos que fortaleçam os projetos — pondera o presidente do Centro Empresarial.
Presidente da rota turística Otávio Rocha Vila Colonial, Michael Molon salienta que é importante o Observatório apresentar resultados concretos logo no início.
— Acredito que os empreendedores estão abertos a participar, mas é importante mostrar resultados práticos logo de cara. Quando perceberem que os dados coletados voltam em relatórios que ajudam a melhorar o negócio, o interesse vai crescer ainda mais.
Para o secretário Mignoni, o sucesso da plataforma passa pela adesão de todos os setores.
— Nós entendemos que o desenvolvimento turístico é um processo coletivo e que o engajamento dos empreendedores e lideranças do setor é fundamental. Pretendemos fazer encontros com momentos de diálogo para apresentar as funcionalidades do Observatório e incentivar o uso também no setor privado — pontua.
De forma geral, há otimismo sobre a possibilidade de crescimento com os dados.
— O Observatório pode mostrar o quanto as nossas festas movimentam a economia da cidade. Não só em ingressos, mas também em hotéis, restaurantes, compras e lazer. Dará força para mostrar o valor dos eventos e justificar investimentos futuros — conclui Molon.
