A força da comunidade escolar de Flores da Cunha pôde ser sentida no Parque da Vindima Eloy Kunz neste sábado (9). Milhares de alunos, professores, diretores, pais e amigos estiveram presentes na etapa municipal da Mostra Científico-Cultural. Ao longo dos corredores com os 166 projetos apresentados, a diversidade de temas e a concentração dos alunos mostravam a seriedade das pesquisas. Ao todo, 46 projetos foram premiados, com os melhores sendo classificados para representar a Terra do Galo em eventos estaduais.
Para chegar a etapa municipal, as escolas desenvolveram suas próprias etapas internas para escolher seus representantes. Mais de 4 mil estudantes da rede pública estiveram envolvidos na iniciativa, resultando na apresentação de mais de 800 trabalhos. Nesta edição, duas escolas privadas também participaram do evento.
— O protagonismo é dos nossos alunos. É um momento que a gente celebra o conhecimento e a participação de todos. Comunidade escolar, os professores, as coordenações e as direções. Sentimos o envolvimento de todos nesse trabalho. Especial as famílias que andam de ladinho com os filhos, apoiando eles nesse projeto — destaca a secretária, acrescentando:
— A diversidade dos temas, tem muito tema que envolve a questão social e a diversidade cultural também. Isso que faz a diferença e enriquece a nossa Mostra. Podemos sentir que os nossos alunos já têm noção de todos os contextos. Ficamos até surpresos com alguns temas. Eu, particularmente, fico muito surpresa quando vem algum problema de pesquisa que a gente nem chegaria a pensar nele. É a prova do quanto a gente aprende com essas crianças. Nesse momento eles estão aprendendo a aprender.
Evasão escolar
Nada de inovações tecnológicas ou fenômenos da natureza. O trio de alunos da turma 305 da Escola Estadual de Ensino Médio São Rafael escolheu pesquisar e apresentar soluções para um tema bem próximo da sua realidade: a evasão escolar.
— Decidimos porque vivenciamos amigos e familiares que praticaram a evasão. Foi uma escolha pensando nisso, nas pessoas próximas — aponta Paola Tatto, 18 anos.
— A gente sabe que é mais por conta de querer trabalhar e ganhar mais dinheiro. Muitos jovens, hoje em dia, pensam mais no dinheiro e acabam deixando a escola de lado — reforça Vitor Foscarini, também de 18 anos.
O grupo revela que se surpreendeu com a gravidade do problema em Flores da Cunha, que foi alertado pelo Índice de Progresso Social (IPS) como “relativamente fraco” no quesito. Em um município que se orgulha da qualidade de sua Educação, os alunos atuais sentem que não recebem a devida atenção:
— (Nos surpreendeu) a questão da insatisfação com as autoridades escolares. A gente teve muitas respostas de que os alunos têm insatisfação, que não se sentem ouvidos, muitas vezes, pela instituição. Muitas respostas foram sobre o tamanho das turmas, que os alunos sentiam que não conseguiam uma atenção do professor, porque tem muita gente dentro da sala de aula — aponta Paola.
As entrevistas também revelaram um problema cultural: as empresas não apoiam o jovem trabalhador a estudar.
— Um problema que notamos é que muitas empresas não aceitam os atestados dos estudantes. Isso faz com que muitos alunos achem melhor não fazer atividades extracurriculares ou algumas atividades escolares, porque não podem perder o dia de trabalho já que precisam complementar a renda de casa — relata Gelso Negritti, 17.
— Tem muita empresa que prefere que os alunos saiam mais cedo da aula do que a empresa esperar o aluno terminar seus compromissos com a escola. Preferem que eles saiam meia hora antes da escola do que chegue meia hora atrasado na empresa. É preciso que o município, juntamente com a Coordenadoria Regional de Educação, possa olhar para essa situação, conversar que as empresas também têm que valorizar o estudo. Porque querendo ou não, sem o estudo (dos jovens para se desenvolver), elas mesmas se prejudicam (no futuro) — concluem os estudantes do São Rafael.
Apagão de professores?
Para quem passava pelos corredores da Mostra Científico-Cultural florense, um título chamava atenção. “E se houvesse um apagão de professores?”, provocava o trabalho dos alunos da turma 601 da Escola Municipal Benjamin Constant.
— Imaginamos o Brasil em 2040 e se a inteligência artificial vai substituir os professores. Como seria ter um “apagão” de professores em Flores da Cunha? Escolhemos esse tema porque isso pode prejudicar muito no aprendizado dos alunos futuramente. Uma das nossas hipóteses é se irá faltar professores em Flores da Cunha porque os alunos não têm interesse em seguir na carreira do professor — explica Lara Santos Centenaro, 11 anos.
— Fizemos um questionário e a maioria dos alunos nunca pensou em ser professor. Perguntamos se eles achavam que a profissão era bem vista e 58,3% falaram que não. Perguntamos também se achavam que os estudantes se comportam adequadamente em de aula e nenhum deles falou que sim — apresenta Leonardo Dias Brocheto, 12 anos.
A pesquisa do grupo apontou que, em três escolas municipais, 34 professores irão se aposentar nos próximos 10 anos. Por outro lado, apenas 13 alunos ouvidos nestas escolas apresentaram interesse na profissão. Ou seja, Flores da Cunha não teria como repor 21 professores.
Para incentivar os alunos a seguirem na carreira e prestigiar os professores, os pesquisadores propõe a criação de uma premiação.
— Pensamos na estratégia de criar uma premiação para os professores da rede municipal, o “Canetão de Ouro”. Os alunos e professores votariam no seu professor favorito, primeiro dentro das escolas e depois na etapa municipal. O vencedor ganharia uma viagem e uma bolsa de estudos — sugere Laura Pelizzer Mascarello, 11 anos.
— Tem muito aluno que não se comporta adequadamente, então esta viagem seria para o professor relaxar e ter um momento de paz — completa Leonardo.