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Janeiro Branco traz reflexão sobre saúde mental e recomeços

Apesar do aumento na procura por serviços de manutenção do bem-estar psicológico, profissionais da área destacam o medo do julgamento como barreira e reforçam a importância da prevenção de patologias

Apesar do aumento na procura por serviços de manutenção do bem-estar psicológico, profissionais da área destacam o medo do julgamento como barreira e reforçam a importância da prevenção de patologias

Em janeiro, a cor branca ganha um novo significado: o incentivo ao cuidado com a saúde mental. A campanha Janeiro Branco, desde 2014, busca conscientizar a população sobre a importância de cuidar do bem-estar psicológico e emocional. 

A iniciativa, idealizada por psicólogos brasileiros, surgiu com o objetivo de abrir um espaço para o diálogo sobre a saúde mental, que, apesar de ser cada vez mais discutida, ainda enfrenta barreiras como o medo do julgamento e o estigma de que apenas quem está em uma situação mais grave deve procurar ajuda.

— O Janeiro Branco é uma ponte. Para nós, psicólogos, é uma oportunidade de aproximar a nossa prática da população, derrubando tabus e tornando o cuidado emocional mais acessível. Para a população, é uma chance de enxergar que todo mundo tem suas dores, seus desafios, e que buscar apoio não é sinal de fraqueza, mas de sabedoria. Essa campanha abre portas para diálogos sinceros, onde ninguém precisa se sentir sozinho ou desamparado — manifesta o psicólogo clínico Felipe Dias.

Segundo Gislaine Uliana Toscano, diretora da Saúde Mental e coordenadora do Centro de Atenção Psicossocial CAPS I Florescer, os principais desafios que Flores da Cunha enfrenta para conscientizar sobre esse tema são a nível preventivo e o comprometimento com o tratamento indicado:

— A importância da prevenção, ou seja, de buscar ajuda antes que os sintomas se agravem. Isso envolve entender a diferença entre o que é considerado normal e o que é patológico, acolher o sofrimento de cada um sem julgamentos e respeitar os sentimentos, tanto seus quanto os dos outros.

Felipe Dias destaca que as buscas por terapia na Terra do Galo têm crescido, o que acredita ser um reflexo positivo de maior conscientização. Porém, como profissional, ainda enfrenta resistências.

— Muitas pessoas ainda acreditam que precisam estar “no limite” para procurar um psicólogo, enquanto a terapia é valiosa justamente para prevenir crises e promover autoconhecimento — reforça.

Em Flores da Cunha, atividades alusivas ao Janeiro Branco são realizadas pela Secretaria da Saúde. Entre as ações, estão a distribuição de folders informativos, espaços de bate-papo com psicólogos nas salas de espera das UBSs, disponibilização de corações com mensagens de incentivo a saúde mental e murais decorativos.

Na Casa da Cultura, a exposição “Corpo, Mente, Arte”, criada para celebrar os 10 anos do CAPS I Florescer, apresenta obras de profissionais e usuários do serviço, refletindo sobre o significado da saúde mental e o que o serviço significa para cada um, dando destaque também à campanha Janeiro Branco por meio da arte.

Um recomeço aos 50

Silvia Pauletti, 50 anos, começou a frequentar o CAPS com a filha mais nova, Fernanda, que foi diagnosticada com Transtorno de Personalidade Borderline. Através do grupo de atendimento aos pais, ela percebeu que também precisava de ajuda psicológica. 

— No começo, com a minha filha, não foi muito fácil. É um aprendizado. O distúrbio que ela tem é uma junção de vários pontos. Eu tinha dificuldade e me sentia culpada por tudo o que estava acontecendo com ela. Foi a psicóloga que disse: “Acho que a mãe da Fernanda está precisando de ajuda”. Inicialmente não foi fácil de aceitar — relata. 

Silvia conta que, após aceitar a situação em que sua mente se encontrava, a experiência no CAPS foi “maravilhosa”. Ela conseguiu viver o luto da morte do pai e percebeu até mudanças na sua vida profissional.

— Entendi que não sou uma Mulher Maravilha ou uma Supermulher. Sou uma mulher normal, mãe e filha, que cuida de tudo em casa, e está tudo bem eu não estar bem. O fato de não ter mais a culpa que eu carregava pelo falecimento do meu pai e por tudo o que aconteceu com a minha filha… A carga que eu tinha não existe mais. Está tudo bem dizer não — relata.

Silvia encontrou no CAPS o apoio necessário para a sua recuperação. Ela descreve como um recomeço.

— O CAPS representa a minha recuperação total, um reinício de 50 anos com outra visão, um recomeço, uma nova fase, virando completamente a chave para melhor. Claro que não estou 100% bem, porque isso ninguém fica, mas hoje eu me sinto tão bem em seguir em frente, sem me sentir mal pelas coisas. Então, foi a virada total de 50 anos vividos até agora.

 

 

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