Com uma trajetória marcada por fé, trabalho missionário e resiliência, a irmã percorreu diversos estados do Brasil e missões internacionais, impactando inúmeras comunidades.
Na próxima terça-feira (18), a Irmã Zelinda Teresinha Eberle completa 60 anos de vida religiosa. Uma jornada que começou quando ela ainda era criança, em Flores da Cunha, encantada com o trabalho das irmãs que preparavam sua turma para a Primeira Comunhão. — Eu gostaria de ser como aquela irmã — disse ela à mãe, sem sequer compreender o que significava ser religiosa. Aos 13 anos, recebeu a permissão dos pais e ingressou na congregação.
Em 18 de fevereiro de 1965, aos 18 anos, fez seus primeiros votos em Caxias do Sul. A partir desse momento, sua vida se tornou um caminho de serviço ininterrupto.
— Quando fiz meus primeiros votos, fui enviada para São Marcos. Mas antes disso, ajudei na construção do Colégio São João Batista, em Caxias (do Sul). Carregávamos pedra, areia e brita para ajudar os pedreiros. — recorda orgulhosa
O espírito missionário a levou por diferentes estados e realidades. Após encerrar sua missão em São Marcos, foi enviada ao Paraná, onde atuou como professora e diretora da Escola Nossa Senhora das Neves. Nos finais de semana, percorria comunidades rurais para catequese e encontros familiares. Nos anos 1980, foi para Minas Gerais e se deparou com uma das realidades mais marcantes de sua caminhada: o Bairro dos Plásticos, em Pirajuba.
— As casas eram cobertas por lonas de nylon preto. Não tinha luz, não tinha água. Mas conseguimos construir um Centro Comunitário, onde realizávamos evangelização e oferecíamos alimentação aos domingos — conta.
Em 1990, sua missão ganhou novos rumos quando foi eleita conselheira geral da congregação e precisou partir para Roma, na Itália. Inicialmente, relutou.
— Eu não queria ir. Tinha minha missão no Brasil, mas as irmãs insistiram. Aceitei, mas com uma condição: se não me adaptasse, voltaria. — relata a Irmã.
A adaptação não foi simples, mas sua persistência a levou a missões na Calábria e na Toscana, onde encontrou seu espaço junto a jovens e catequizandos. Doze anos depois, retornou ao Brasil para uma experiência totalmente diferente: a Amazônia. Por sete anos, percorreu comunidades ribeirinhas, aldeias indígenas e regiões de garimpo.
— Conheci a aldeia Caiapó. No início, os índios me olhavam curiosos, me tocavam. Mas logo fomos criando um vínculo. No fim da visita, o cacique me deu uma muda de açaí e disse que eu poderia voltar sempre que quisesse.
A missão amazônica envolvia desafios logísticos intensos. Muitas vezes, enfrentava viagens longas por rios e estradas precárias, chegando a comunidades que ficavam a centenas de quilômetros de distância.
— Era difícil. Ficávamos atoladas, os carros quebravam, às vezes ficávamos presas em pontes de madeira. Mas cada chegada valia a pena. O contato com aquelas famílias foi um dos momentos mais marcantes da minha vida.
Após sua missão na Amazônia, Irmã Zelinda passou por Pernambuco, onde auxiliou na educação de crianças em situação de vulnerabilidade. Trabalhou em uma associação que atendia mais de 500 crianças, oferecendo ensino, alimentação e atividades culturais.
Depois de tantos anos de dedicação, sua trajetória sofreu um revés quando sofreu um acidente e fraturou a perna. Passou por um longo processo de recuperação, mas nem mesmo isso a impediu de continuar sua missão.
Hoje, aos 78 anos, está em Ibaiti (PR), onde coordena a Pastoral da Criança e segue atuando junto às comunidades. Sua rotina envolve visitas às famílias, formação de lideranças e apoio a programas sociais.
— Se pudesse voltar no tempo, faria tudo de novo. Talvez com mais perfeição, mas sempre com o mesmo amor. Deus sempre caminhou comigo — afirma.
