Com a pavimentação de novas vias em Flores da Cunha, cresce não só a sensação de desenvolvimento, mas também a preocupação com a segurança no trânsito. O que deveria ser sinônimo de progresso revela um problema estrutural e cultural: a imprudência dos motoristas e a falta de respeito às leis de trânsito.
O problema está além da infraestrutura e aponta para a falta de educação no trânsito, o motorista não respeita limites de velocidade e preocupa quem testemunha suas imprudências. O vereador Diego Tonet considera que o comportamento do motorista florense é um fator crítico.
— Quanto mais asfalto, mais insegurança viária, pois o motorista não tem o hábito de respeitar o limite de velocidade. Se formos para outra cidade, como Gramado, por exemplo, os pedestres por vezes nem olham para a via, se tem faixa de segurança eles atravessam. Aqui, a cultura parece ser de que o carro tem sempre prioridade na via — pontua.
Tonet acredita que essa mudança de mentalidade poderia garantir mais segurança no trânsito e uma gestão mais eficiente dos recursos públicos.
— Se a cultura de respeito ao trânsito for modificada, muito recurso (público investido nas vias públicas) seria poupado e poderia ser investido em outras áreas — salienta o vereador.
“Paradoxo de segurança”
Nesse contexto, aspectos psicológicos também desempenham um papel fundamental na forma como os motoristas se comportam nas vias públicas. Fatores emocionais e comportamentais podem influenciar diretamente a condução, muitas vezes de maneira inconsciente. A psicóloga clínica formada pela Universidade de Caxias do Sul (UCS), Neila Patrícia Machry, destaca duas condições comuns que têm grande impacto sobre as atitudes no trânsito.
— A impulsividade e o estresse são dois fatores psicológicos que impactam diretamente a forma como uma pessoa dirige. Indivíduos impulsivos tendem a agir sem pensar nas consequências, o que pode levá-los a ultrapassar os limites de velocidade ou mesmo realizar manobras arriscadas no trânsito. Já o estresse reduz a tolerância e aumenta a irritabilidade, o que compromete a tomada de decisão — explica Neila.
Ela também alerta para o chamado “paradoxo da segurança”:
— Quando o motorista percebe que o ambiente está seguro, seja por boas condições de via, pela presença de tecnologias ou mesmo pela ausência de fiscalização, ele pode desenvolver uma falsa sensação de controle e invulnerabilidade. Isso pode ser considerado um paradoxo da segurança, ou seja, quanto mais seguro o motorista se sente, maior a chance de que ele adote comportamentos imprudentes, como aumentar a velocidade ou usar o celular ao volante. A confiança excessiva pode levar à negligência, tornando o trânsito perigoso para o condutor — conclui.
“Passo firme para formar cidadãos mais atentos”
O debate sobre a educação no trânsito ganha mais força em maio, tradicional mês da campanha nacional Maio Amarelo, que chama atenção para a importância da segurança no trânsito.Mesmo com os avanços na engenharia viária, o comportamento de motoristas e pedestres ainda é um grande desafio.
Para aproximar os estudantes ao tema, uma série de atividades alusivas ao Maio Amarelo estão sendo realizadas nas escolas municipais, estaduais e privadas de Flores da Cunha, além da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae). As ações práticas servem para instruir os jovens, que utilizam os conhecimentos para sensibilizar seus familiares e a comunidade.
Com o tema “Desacelere: seu bem maior é a vida”, definido pelo Conselho Nacional de Trânsito, as atividades vão desde a realização de palestra educativa até a apresentação da Escolinha de Trânsito que oferece, de forma prática, a aplicação das regras de trânsito. Também foi produzido material didático para potencializar a educação dos estudantes no trânsito.
— Esse projeto, que hoje orienta e conscientiza nossas crianças e jovens sobre as regras e o respeito no trânsito, é um investimento no futuro, é um passo firme para formar cidadãos mais atentos, cuidadosos e responsáveis — define o prefeito César Ulian, sobre ações em parceria com o CFC Florense.
De acordo com dados da Polícia Rodoviária Federal (PRF), em 2024, foram registrados 73.121 acidentes nas rodovias federais, resultando em 6.160 mortes e 84.489 feridos. Esse foi o quarto ano consecutivo de aumento no número de óbitos, com um aumento de 10% em comparação com 2023. No Rio Grande do Sul, 1.257 pessoas morreram em acidentes de trânsito em 2024.