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Flores da Cunha enfrenta escassez de mão de obra apesar do crescimento industrial

Indústrias e setor de serviços seguem em expansão, mas empresas relatam dificuldade para preencher vagas e atrair profissionais qualificados
Crescimento industrial na cidade aumenta a demanda por mão de obra qualificada (Foto: Klisman Oliveira)

O cenário econômico de Flores da Cunha vive um paradoxo. De um lado, a indústria e o setor de serviços seguem em expansão, impulsionados pelo bom desempenho da Serra. De outro, empresários e gestores de Recursos Humanos (RH) enfrentam dificuldade crescente para preencher as vagas.

O número que consolida esta escassez de mão de obra é o site Flores Emprego, ferramenta criada pela Prefeitura de Flores da Cunha justamente para aproximar a demanda das empresas dos trabalhadores. Nesta semana, o site listava 419 vagas em 316 empresas. Apesar da rotatividade de admissões e demissões, este número total tem pouca variação. Em dezembro de 2024, o site anunciava 471 vagas de trabalho.

Os movimentos do mercado de trabalho na Serra são acompanhados mensalmente pelo Observatório do Trabalho da Universidade de Caxias do Sul (UCS). O banco de dados da iniciativa mostra que Flores da Cunha terminou 2024 com a criação de 533 novos postos de trabalho — sendo que 270 pela indústria. Este saldo positivo é comum no histórico pujante do município.

O relatório mais recente é de junho deste ano, quando Flores da Cunha registrou 603 admissões e 550 desligamentos, resultando em um saldo positivo de 53 empregos formais. O desempenho representa uma variação de 0,40% no estoque de empregos em relação ao mês anterior, com destaque para a indústria metalmecânica e o setor de alimentos, que continuam aquecidos e sustentam boa parte das novas contratações.

“Canibalismo estrutural”

O crescimento industrial, por outro lado, tem ampliado os desafios relacionados à falta de mão de obra. Flores da Cunha, embora reconhecida pela sua agricultura pujante, passou a investir em setores de ponta, atraindo indústrias metalúrgicas e moveleiras, o que intensifica a competição por trabalhadores qualificados. É como avalia o economista e professor da UCS, Mosar Leandro Ness.

— Flores tem a peculiaridade de que 60% do PIB é gerado pelo setor primário e pela agroindústria, pelas pequenas propriedades. Além de se destacar na produção de uva e vinho, se sobressai no setor moveleiro, que atrai até metalúrgicas de outras regiões. Esse desenvolvimento cria novos polos de trabalho, mas também provoca uma competição por trabalhadores entre empresas, um fenômeno que chamo de “canibalismo estrutural” — observa o economista.

Cenário estadual é semelhante

No Estado, o levantamento da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (FIERGS) aponta um quadro semelhante. Segundo o estudo, a falta de trabalhadores qualificados atinge um nível recorde na indústria gaúcha: 85,5% das empresas do setor enfrentam dificuldade para encontrar profissionais capacitados, o maior percentual já registrado pela Sondagem Industrial Especial da FIERGS.

O problema é mais grave nas áreas de produção, onde 94% das indústrias relatam dificuldade para contratar operadores e 89% afirmam não conseguir encontrar técnicos. Também há escassez em funções como vendas, marketing, pesquisa e desenvolvimento, com índices próximos a 85%.
Ness aponta que essa escassez está ligada não apenas à qualificação, mas também às mudanças culturais entre os jovens que entram no mercado:

— O mercado de trabalho é muito dinâmico e esse dinamismo se dá em função do desenvolvimento de tecnologias existentes. Hoje os postos de trabalho exigem que, à medida que o tempo vá passando, se tornem cada vez mais qualificados. Somente ser um operador de um torno já não tem mais espaço; o trabalhador tem que ter conhecimento de programação. Nós estamos observando essa dicotomia entre dinamismo e escassez em relação à qualidade de mão de obra disponível, que muitas vezes fica aquém daquilo que o empresário deseja — considera o economista.

Natalidade e mão de obra

A redução natural da população no Estado e a vinda de profissionais de outras regiões são outros fatores citados pelo professor Leandro Ness para a escassez de mão de obra e rotatividade dos profissionais empregados.

— No Rio Grande do Sul, já observamos efeitos da transição demográfica. A maior parte da população optou por ter menos filhos que a taxa de reposição natural. Por conta disso, vamos precisar importar mão de obra para atividades temporárias, como podar parreiras. A industrialização também atrai trabalhadores de outros setores, aumentando a competição por profissionais — explica.

O debate entre educação, políticas sociais, readequação e mercado de trabalho deixa claro que não há soluções simples. Ness aponta caminhos práticos:

— Nem todos nasceram para cursar uma faculdade de cinco anos. Cursos tecnólogos e capacitações rápidas permitem que o trabalhador ingresse no mercado e construa uma carreira ao longo da vida. Do lado do empreendedor podemos dizer que salários melhores atraem trabalhadores melhores, e esses são mais produtivos e economicamente rentáveis— finaliza.

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