Muito mais que um costume antigo, o filó é uma herança afetiva que ainda pulsa no coração das comunidades de origem italiana. Na Flores da Cunha, essa tradição ganha nova vida na Semana do Município, com uma edição especial do programa Parla Talian que convida o público a reviver tempos em que vizinhos se reuniam para partilhar comida, histórias e calor humano.
Para entender o significado do filó, é preciso ir além do dicionário. Porque, em terras de colonização italiana, o filó não é tecido. Na verdade, pode-se chamá-lo de um “fio invisível” que unia vizinhos, famílias e gerações inteiras ao redor de uma mesa farta, de jogos de cartas, de orações, e de muita conversa.
— Era um costume dos antepassados fazer o Filó. Como acontecia à noite, as pessoas iam para o filó com alguma coisa que iluminasse o caminho. Era comum lanternas, algumas coisas parecidas com tochas e lampiões. As pessoas seguiam juntas conversando ou até rezando até a residência do visitado. No grupo iam velhos, jovens e crianças. Chegando ao local, os comes e bebes eram colocados na mesa e as conversas ficavam mais animadas à medida que o vinho fazia seu efeito — explica a historiadora Lorete Maria Calza Paludo.
Ela conta que, desta vez, o Filó vai ocorrer ali mesmo, no centro da cidade. A encenação começará sob a escadaria da igreja, de onde o grupo sairá com lampiões acesos rumo à Praça da Bandeira, revivendo o ritual dos encontros comunitários de outros tempos.
— O Filó irá ocorrer na Praça da Bandeira. Acenderemos os lampiões e iremos até certo ponto da praça para darmos início ao Filó que nossos antepassados faziam. Era um encontro social — detalha Lorete.
Durante o evento, o espírito do filó será resgatado em cada detalhe. Faziam parte desses encontros tradicionais pratos italianos como grostoli, fregolá e brodo para aquecer nos dias frios, além de vinho e graspa. As mulheres tricotavam, costuravam e contavam histórias; os homens se reuniam em rodas de carteado; as crianças brincavam sob as mesas ou ao redor da casa. Tudo isso será lembrado e celebrado diante do público, com a alma que só o Parla Talian sabe capturar.
Com essa edição especial, o programa reafirma seu papel como guardião da memória florense, mas vai além: transforma o passado em presença viva. E, nesse aniversário de 101 anos de Flores da Cunha, deixa claro que preservar a história não é guardá-la em prateleiras. É contá-la. Cantá-la. E, de vez em quando, colocá-la sob a luz suave de um lampião, bem no meio da praça.