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Entre fé, tradição e desafios, bairro União se fortalece com apoio da comunidade e das igrejas

Histórias de moradores revelam a força da coletividade e o papel das igrejas em um bairro marcado pela fé e pela superação
(Foto: Klisman Oliveira)

Seja nos almoços de domingo, nas festas da comunidade ou nas conversas entre vizinhos, há 36 anos Ilda Araldi (68) é a cozinheira oficial do salão comunitário do bairro União. Para ela, a comunidade vai muito além das paredes do salão, é como uma família.

— Eu participo da nossa comunidade desde que ela começou. Nós fazemos muitas festas beneficentes, além de mim sempre tem umas sete pessoas que sempre contribuem nos nossos almoços. Nossas festas sempre reúnem umas 500 ou 600 pessoas — conta Ilda.

É no convívio diário com os vizinhos e amigos de longa data, que ela sente que pertence.

— Eu não sairia da União para ir para outra comunidade, porque aqui a gente se conhece há muito tempo. As pessoas que participam da comunidade, das festas, são como pessoas da nossa família. É como se fosse nossa casa — afirma a moradora.

Mas nem tudo é festa. Nos últimos meses, um problema recorrente tem preocupado quem mora no bairro.

— Ultimamente tem faltado bastante água, acho que no momento essa tem sido a maior demanda da comunidade. Ontem, por exemplo, faltou o dia inteiro, até meia-noite faltou água — conta.

Outro tema que já foi motivo de apreensão no bairro é a segurança. Embora o União ainda carregue fama de ser uma área violenta, quem vive no local nota uma mudança de cenário nos últimos anos.

— O União já foi um bairro bastante violento. Hoje em dia, a gente que vive no dia a dia não sente mais tanto essa questão. A gente sabe que alguns moradores de outros bairros comentam, e o bairro leva essa fama, mas ultimamente está bem mais tranquilo.

Ilda que participa com frequência de celebrações católicas no bairro, tem percebido uma migração de fiéis para outras denominações.

— Eu sou católica, mas percebo uma grande migração, principalmente dos jovens, para igrejas evangélicas. Tem muitos que só concluem a crisma e já vão para igrejas evangélicas. A igreja católica acaba não sendo tão atrativa para esse público…eu vejo muito pela questão das músicas que não têm nas igrejas católicas e têm nos cultos — avalia.

Fé que resgata

A fala de Ilda reforça um fenômeno do nosso tempo: cada vez mais jovens têm deixado a Igreja Católica e migrado para igrejas evangélicas. O fato, que não é novo, ganha contornos ainda mais evidentes em regiões com maior vulnerabilidade social, onde fé, acolhimento e assistência acabam se tornando respostas imediatas a problemas concretos do dia a dia.

No União esse movimento já pode ser percebido com números. Só na rua Dom Pedro I, estão localizadas cinco denominações evangélicas. Na Assembleia de Deus Ministério de Madureira, uma das mais atuantes, os cultos reúnem em média 150 pessoas por encontro. São três celebrações fixas por semana: culto de oração às terças, culto profético às quintas e culto da família aos domingos.

À frente da igreja está o pastor Israel Muneretto de Andrade, que acompanha de perto as transformações do bairro e o papel da igreja no enfrentamento dos desafios sociais.

— Estamos atuando no auxílio às famílias para que tenham mais estrutura, pois a família é a base de tudo. Contribuímos cuidando dos jovens para que não entrem no mundo das drogas e da criminalidade, ajudamos também com alimentos aos que realmente necessitam — conta.

Para ele, a presença da igreja vai além do espiritual. Em um cenário de vulnerabilidade, ela também se torna um ponto de apoio emocional, psicológico e até mesmo material.

— O bairro União tem uma população mais carente e precisa de uma atenção com mais segurança. As pessoas nos procuram para pedir ajuda, pois muitas já estão desacreditadas… muitas já perderam a esperança. Muitas nem sonham mais. Temos vários casos de pessoas com depressão, crise de pânico e ansiedade, e a igreja, com o seu papel de trazer fé e esperança, tem ajudado muito — relata.

A atuação entre os jovens é uma das prioridades. Para o pastor, ocupar o tempo e dar sentido à rotina desses adolescentes e jovens é uma forma de afastá-los de caminhos perigosos.

— Temos feito alguns trabalhos para atrair a juventude para dentro da igreja, pois assim esses jovens não terão tempo para pensar em crimes ou coisas erradas.

Em bairros onde faltam opções de lazer, cultura e, muitas vezes, estrutura básica, a igreja se torna espaço de acolhimento, pertencimento e transformação. No União, essa presença tem se multiplicado, e ganhado o coração, principalmente, da nova geração.

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