Com a presença de mais de uma centena de viticultores, estudantes e profissionais, a Tarde de Campo realizada na quarta (9), possibilitou aprendizado e troca de experiências no uso de drones para a pulverização e na antecipação da poda, além da apresentação de tecnologias e inovações que envolvem a digitalização de processos e na coleta e processamento de informações em busca de uma viticultura de precisão. O evento promovido pela Secretaria municipal de Agricultura, com apoio da Emater e Sindicato dos Trabalhadores Agricultores Familiares de Flores da Cunha contou com apoio da Embrapa, da Cooperativa Vinícola São João e da Farming Solutions e foi realizado na propriedade da família de Ricardo Molardi, na Linha 80.
Poda antecipada
O engenheiro agrônomo Paulo Tesser, da Cooperativa Vinícola São João, de Farroupilha, foi o primeiro a palestrar sobre as vantagens e benefícios da poda antecipada, também chamada de poda de outono. Para ele, a principal vantagem está relacionada ao uso da mão de obra escalonada, ou seja, antecipando a poda, um número menor de pessoas poderá podar uma área maior, sem necessidade de contratar ou terceirizar este serviço através de diaristas. Ele aponta ainda que, sendo realizada no outono, o clima é mais ameno.
Outras vantagens também podem estar associadas à algumas variedades de uvas ou outras particularidades. Ele exemplifica que a pode antecipada elimina o fenômeno chamado de dominância apical pelo qual um ramo novo principal inibe o crescimento dos brotos laterais. Ao contrário, durante o período de poda normal realizada no final do inverno, se observa que apenas uma ou duas gemas brotam. Uma terceira vantagem está no fato de que estas gemas, que brotam após a poda antecipada, tem o mesmo vigor, diminuindo a dominância apical. Tesser explica ainda que foi possível observar na variedade Isabel, uma diminuição do grão verde, tornando a maturação mais uniforme.
A poda consiste na remoção de ramos ou partes para modificar o crescimento e desenvolvimento de árvores frutíferas, sendo importante instrumento para determinar a quantidade e qualidade das frutas que se pretende colher.
Drones ou trator para pulverizar?

(Foto: Carlos R. Paviani)
Cada vez mais os viticultores estarão falando ou ouvindo falar de VANTs – veículo aéreo não tripulável – popularmente chamados de drones, cuja utilidade para os tratos culturais na agricultura já são uma realidade. O assunto é tema de diversas pesquisas, como a tese de doutorado de Lilian Espindola Muller em colaboração com o pesquisador da Embrapa Fabio Rossi Cavalcanti que proferiu a palestra denominada “Não se aplica calda com drones como se faz na pulverização tratorizada”. O estudo apresentou dados comparativos na aplicação de fungicidas em vinhedos com vista a prevenir a infestação por oídio, popularmente chamado de ‘mofo’. O experimento foi realizado em vinhedos conduzidos por latada e espaldeira. Uma pulverização de controle foi realizada com pulverizador conduzido por trator e diversas aplicações com drones, alterando variáveis como altura e capacidade de carga do equipamento.
O estudo constata que a pulverização tratorizada mostra-se superestimada, aplicando produtos além do necessário para combater as doenças fúngicas, com distribuição desigual do produto, aumentando custos desnecessários e causando poluição ambiental. Por outro lado, o estudo mostra que a pulverização com drones não estabelece diferenças fundamentais em sua eficiência entre os sistemas de condução por latada ou espaldeira. O estudo aponta que em determinadas condições de manejo do drone, como altura, velocidade de voo, número e densidade de gotas aspergidas, a eficiência é atingida com um segundo sobrevoo sobre a mesma área.
O pesquisador Fabio Cavalcanti conclui dizendo que é necessário descobrir um método para trabalhar com esta metodologia, alterando variáveis para cada tipo de equipamento a ser utilizado. Entre as conclusões do estudo estão a dependência das condições de voo e a necessidade de configurações globais do VANT para cada caso. É necessário também adequar o investimento com a realidade de cada produtor.
Paulo Tesser foi enfático, durante a roda de conversa após a palestra, recomendando aos produtores que adquiram este tipo de equipamento, assim como a máquina para colher uvas, em grupos de dois, três ou quatros produtores. Para ele é preciso perder o individualismo pelo qual cada agricultor deve adquirir seu próprio equipamento. Assim como os celulares, a tecnologia dos VANTs muda e se aprimora constantemente, de modo que a aquisição em grupos de vizinhos permite atualizar a tecnologia diluindo custos e otimizando os investimentos.
Os estudos mostram ainda que nas regiões de relevos acidentados, como a Serra Gaúchas, nas quais o uso do trator é dificultado, é que se encontram vantagens para uso de drones.
Treinamento para uso de VANT
O enólogo e engenheiro químico Ricardo Molardi, diretor da Vinícola Molardi, testemunhou favoravelmente quanto ao uso do drone. Questionado sobre a dificuldade de operar o drone, ele contou que realizou o treinamento que é obrigatório, estabelecido por normas da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) e que regula este tipo de prática. “Foi uma semana de aulas teóricas e um dia de prática” explicou Molardi. Após adquirir o equipamento Molardi disse que contou com a assistência técnica dos profissionais da Farming Solutions que lhe ensinaram a operar sozinho o equipamento em apenas três visitas. “Na primeira vez, a aplicação foi realizada pelo pessoal da assistência técnica. Na segunda, eu passei a operar o equipamento em parte da aplicação e, a partir da terceira visita, conduzi sozinho o drone”. Para Molardi, a principal vantagem no uso de drone está na redução do uso de tempo de para aplicação.
Mateus Mulinari, diretor da Farming Solutions, que é produtor de grãos em Guaporé, conta que já trabalha com drones há seis anos. Para ele, uma das grandes vantagens é a saúde do produtor. A exposição aos riscos de intoxicação na aplicação de defensivos agrícolas é muito menor com drone comparada ao uso do trator.
A principal diferença dos equipamentos está na capacidade de carga dos insumos agrícolas. A Farming Solutions comercializa drones da marca DJI, com capacidade de 20, 25, 40 e 50 litros. O investimento na aquisição de um equipamento com 50 litros de carga pode variar de R$ 200 mil até R$ 250 mil, dependendo da quantidade de acessórios opcionais, tais como um kit dispersor de sólidos, gerador de energia para carregamento das baterias e misturador de calda entre outros.