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De tabu a rotina: terapia ganha espaço na vida dos florenses

Acompanhamento psicológico ajuda a romper estigmas, fortalecer o autocuidado e promover a saúde mental
(Foto: zinkevych stock.adobe.com/Divulgação)

A procura por terapia cresce de forma consistente no Brasil, impulsionada por mudanças culturais, pela pandemia e pelo avanço das redes sociais. O que antes era visto com preconceito hoje ganha espaço como prática de autocuidado, especialmente entre jovens e adultos em fase de transição.

Camila Francisconi, 32 anos, não chegou à terapia de forma espontânea. Foi quase arrastada pela insistência de uma amiga, e essa decisão mudou sua vida.

— A busca por terapia ocorreu há vários anos já, uns nove talvez. No início, eu era resistente, não entendia como aquilo poderia me ajudar. Mas, decidi experimentar. Foi libertador ter alguém ouvindo o que me deixava aflita, validando minhas emoções e me orientando — conta a moradora de São Gotardo.

A reação das pessoas ao redor também era um desafio.

— Quando iniciei, lembro que falava “tô fazendo terapia” e algumas pessoas me olhavam intrigadas, como se eu fosse louca. Eu até achava engraçado observar aquele ar de julgamento. Hoje, felizmente, a postura mudou: ou a pessoa já está em processo ou cogita iniciar — compara.

Camila passou por três processos terapêuticos diferentes, cada um em momentos distintos da vida.

— Eu busquei terapia em fases de ansiedade, de tomada de decisão e até de mudança profissional. Em todas elas encontrei ferramentas que me ajudaram a me fortalecer. Aprendi a lidar melhor com a ansiedade, a ser mais assertiva, a compreender e regular minhas emoções com mais inteligência. Em terapia, me dei permissão para mudar de profissão e a acreditar na minha própria capacidade.
O saldo, resume, é de autonomia.

— Hoje tenho mais confiança, mais clareza e sinto que cada passo que dou vem acompanhado de uma reflexão que me conduz a lugares melhores — afirma Camila.

O psicólogo Christian Fontana, que acompanha pacientes na Terra do Galo,  reforça o impacto transformador da terapia.

— Tenho relatos recentes de pessoas que, inicialmente, tinham um estigma maior em relação à psicoterapia. Ao terem contato com o serviço, passaram a reconhecer os ganhos e resultados, percebendo que, de fato, ter esse apoio psicológico faz total diferença. A vivência concreta ajuda a quebrar preconceitos e a consolidar a importância do cuidado emocional — explica.

“Perceber que não está sozinha”

A doutora em psicologia pela UFRGS Bruna Wendt, acredita que histórias como a de Camila só se multiplicarão se o acesso à psicoterapia for ampliado.

— É fundamental fortalecer as redes de atenção psicossocial, democratizar o atendimento gratuito e qualificado e investir em campanhas permanentes de desestigmatização. Só assim conseguiremos transformar a realidade da saúde mental no país — afirma.

Além disso, especialistas reforçam que a expansão do acesso à terapia não é apenas uma questão de saúde individual, mas também social. Jovens, adultos e até crianças podem se beneficiar de acompanhamento psicológico regular, aprendendo a lidar com emoções, reduzir ansiedade e construir estratégias de enfrentamento mais saudáveis.

Em muitos casos, o impacto se reflete no desempenho escolar e profissional, nos relacionamentos e na qualidade de vida como um todo. A cultura do cuidado mental, embora ainda em consolidação, começa a mostrar resultados concretos: indivíduos mais autônomos, conscientes de suas limitações e capazes de buscar soluções antes inimagináveis.

A experiência de Camila é um de tantas relatos que buscar ajuda não é fraqueza, mas sim um passo de coragem e maturidade. O incentivo de amigos, familiares e profissionais qualificados contribui para desmistificar antigas ideias e transformar o olhar da sociedade sobre a terapia.

— Cada pessoa que se abre para esse processo passa a perceber que não está sozinha, que há caminhos para lidar com a ansiedade, com a pressão social e com os momentos de incerteza. E é justamente essa experiência concreta que gera confiança e transforma vidas — conclui Bruna.

Mais do que estatísticas, a expansão da psicoterapia demonstra que a sociedade caminha para um cenário em que o cuidado emocional é prioridade. Assim como os jovens que iniciaram a durante a pandemia, ou os que relatam sentimentos ocultos nas redes sociais, a vivência de Camila mostra que abrir-se para o processo terapêutico transforma não só a vida individual, mas também fortalece famílias, escolas e comunidades. A saúde mental, portanto, deixa de ser privilégio de poucos e se torna um direito coletivo, capaz de transformar vidas.

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