Representantes de Flores da Cunha apontam soluções e discutem estratégias para enfrentar desastres climáticos regionais
As chuvas intensas que atingiram Flores da Cunha e as consequências dessa sobrecarga hídrica são indicativos de que a emergência climática é um desafio cada vez mais próximo. A 1ª Conferência Intermunicipal do Meio Ambiente, realizada em Bento Gonçalves, na quarta-feira (29), reuniu a Serra para debater estratégias de prevenção de desastres e criar um futuro sustentável.
O encontro contou com representantes de 26 municípios, incluindo três da Terra do Galo. Na Conferência foram discutidos temas em eixos diferentes como mitigação, adaptação a desastres, justiça climática, transformação ecológica e governança ambiental. Durante o encontro foram aprovadas duas propostas, a partir de cada temática, que serão encaminhadas para votação a nível estadual na 5ª Conferência Nacional do Meio Ambiente.
— O evento atingiu as expectativas, visto a expressiva participação dos municípios envolvidos. O século que estamos vivendo está passando por mudanças climáticas significativas, se não extremas, por isso devemos estar preparados e planejados para o novo “normal” — considera a diretora do Meio Ambiente Franciele Zorzi, que representou a prefeitura de Flores da Cunha na conferência.
A partir de reflexões sobre os impactos dos desastres climáticos na Serra, como os enfrentados em maio do ano passado, o evento abordou formas de implementar estratégias mais eficazes de prevenção e adaptação. Para o empresário e vereador Diego Tonet, que participou em nome do setor privado, o eixo de adaptação e preparação para desastres foi particularmente importante. Ele relembra que o município viveu uma crise climática que causou prejuízos econômicos significativos.
— Não tivemos perdas de vidas, mas houve prejuízos severos, principalmente na parte econômica do meio público, iniciativa privada e de forma especial na agricultura. Tivemos grandes perdas para o nosso município na ordem dos R$ 50 milhões — recorda Tonet.
O coordenador do Comitê de Meio Ambiente do Centro Empresarial, Gilberto Betanin Júnior foi o porta-voz da sociedade civil de Flores da Cunha no evento. Para ele, a troca de experiências foi essencial para direcionar os próximos passos do debate.
— (O evento abordou) a questão das mudanças emergenciais climáticas, dos problemas que tivemos nas enchentes, e os impactos que estamos tendo dentro da sociedade. Entre as comissões foram elencadas e apontadas várias propostas, que depois foram votadas. Entre as temáticas, foram desenvolvidos dois projetos para serem levados à conferência estadual — observa.
Entre as propostas apresentadas, Tonet concorda com a criação de um plano de contingência regional para garantir que, em momentos de crise, as autoridades saibam exatamente o que fazer e para onde encaminhar as pessoas em risco.
— Ficou definida a criação de um plano de contingência para os municípios ou um plano regional. Também foi citado um plano de comunicação para fazer com que as informações corretas cheguem até as pessoas que, por vezes, não têm acesso de forma rápida ou que ficaram sem energia elétrica e estão praticamente isoladas.
Betanin destaca a importância de incluir a sociedade no debate sobre sustentabilidade, principalmente através de ações de educação ambiental.
— Se falou muito na questão de educação ambiental, com um trabalho mais amplo, envolvendo não só crianças, mas também adultos. Essa foi uma das propostas aprovadas. Também tem a questão agrícola, em dar apoio na parte da sustentabilidade na zona rural, com gestão, boas práticas e uso de defensivos — contextualiza.
Uma defesa regionalizada
Um dos maiores aprendizados do evento, segundo Tonet, foi a necessidade de uma Defesa Civil regionalizada, especialmente para municípios de menor porte, como Nova Pádua.
— Outro fator que impacta muito Flores da Cunha é a criação de um corpo técnico de Defesa Civil com engenharia, parte jurídica e pessoas que pudessem estar disponíveis dentro dos municípios, porém os de menor porte talvez não tenham condições de sustentar. São pessoas capacitadas para fazer e até dizer, por vezes, ao prefeito e secretários qual é a melhor ação para o momento. Se estabeleceu que a melhor iniciativa seria via o Consórcio Intermunicipal de Desenvolvimento Sustentável da Serra Gaúcha (Cisga) criando um corpo técnico regionalizado de acordo com as proximidades dos municípios — explica.
O evento também foi uma oportunidade para aprender com as experiências de outros municípios, como Gramado, que apresentou suas práticas na gestão de crises climáticas. O coordenador do Comitê de Meio Ambiente do Centro Empresarial se mostrou otimista quanto à repercussão das discussões da conferência em nível estadual e nacional.
— Foi muito importante a participação do município nessa conferência justamente pela questão das propostas que foram envolvidas. Daqui um tempo serão votadas em nível estadual e posteriormente em nível nacional. Se forem aprovadas, algumas poderão ser tratadas como projeto de lei, outras como obras. Vai depender depois em como vai ser desenvolvido pensando na questão de investimentos. Agora são propostas — opina Betanin.
A 5ª Conferência Estadual de Meio Ambiente do Rio Grande do Sul está marcada para os dias 11 e 12 de março, em Porto Alegre, quando as propostas de todas as iniciativas regionais serão discutidas.