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Agricultores relatam impasse no preço da uva

Insegurança quanto ao valor pago pelo quilo da fruta é realidade, mesmo durante a safra

Insegurança quanto ao valor pago pelo quilo da fruta é realidade, mesmo durante a safra

Já imaginou vender um produto e descobrir o preço exato que será pago por ele somente semanas depois? É justamente o que ocorre com diversos produtores de uva de Flores da Cunha e Nova Pádua nesta safra 2024/2025. A referência é o preço mínimo fixado em R$ 1,69 por quilo pelo Ministério da Agricultura, mas o valor final da negociação é incerto.

A engenheira agrônoma Adriane Bernardi, 27, agricultora na localidade do Travessão Carvalho, explica que essa é uma prática comum. 

— A gente nem sabe (o preço que vão nos pagar) porque já levamos duas vezes na vinícola e nem recebemos a nota. No ano passado também foi assim, esperaram entregar um monte de uva para depois começar a falar o preço, que aí eles viram mais ou menos quanto tinha de produto para decidir o valor que iam pagar — explica. 

O preço mínimo da uva também gera descontentamento, segundo a agricultora. 

— Esse valor é baixo porque esse ano gastamos mais com defensivos, já que muitas uvas foram perdidas na última safra. Tivemos um custo maior. As conversas eram que as vinícolas iam pagar um valor mais alto, mas até agora, pelo que se vê, não vai ser assim. 

Adriane opina que um valor justo seria acima dos R$ 2 por quilo. Ponto de vista que é compartilhado pelo presidente do Sindicato dos Trabalhadores Agricultores Familiares (STR) de Flores da Cunha e Nova Pádua, Ricardo Pagno.

— O preço mínimo estabelecido pelo governo só leva em conta o custo de produção, não contabiliza a depreciação de maquinário, o custo financeiro e o valor do capital investido para produzir. Se botarmos no papel esses custos variáveis, teremos um preço mínimo da uva de R$ 2,30 por quilo. Esse seria um valor sustentável para o agricultor trabalhar e ter um dinheiro para investir na sua propriedade — avalia.  

Pagno lembra que, na safra passada, o preço mínimo da uva foi de R$ 1,50/kg, mas, em virtude da falta de produto no mercado, o valor praticado foi de R$ 2,20/kg.

— A expectativa era, e ainda é, que fossem praticados os preços do ano passado. Tivemos quatro anos ruins e, em 2025, o mercado comporta uma melhora, afinal, estamos com estoques zerados de suco e vinho. As empresas conseguiram comercializar bem a última safra.

A categoria se sente desrespeitada quando algumas empresas da região se reúnem e combinam os preços que pretendem pagar ao produtor, prejudicando a livre concorrência.

— Trabalhamos a ideia de formular um contrato anual de compra e venda entre o agricultor e as empresas que ele entrega a safra. Isso geraria uma certa segurança para ambas as partes — revela Pagno.  

O presidente da Associação Gaúcha de Vinicultores (Agavi), Everton Milani, afirma que cada safra tem suas peculiaridades e que devem ser respeitadas por todas as entidades, norteadas pelo preço mínimo fixado pelo Governo Federal. 

— O exemplo é o da safra passada em que o preço médio praticado pelas indústrias foi muito superior ao preço mínimo fixado, decorrente de uma quebra de safra em razão de condições climáticas severas. 

Sobre as vinícolas ainda não estabelecerem preços para a uva entregue, Milani declara que a Agavi não tem conhecimento a respeito de tal prática.

— Para toda a uva recebida pelas indústrias deverá ser emitida uma nota fiscal de compra, onde obrigatoriamente deverá estar o preço mínimo estabelecido pelo Governo Federal, conforme comunicado Conab/Moc 034 de 13 de dezembro de 2024 – ressalta.
 

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