A capela Nossa Senhora do Carmo, no Travessão Rondelli, orgulha-se de ser a terra do poeta-agricultor que escreveu uma das canções mais representativas da imigração italiana no Rio Grande do Sul. Angelo Giusti, autor de “Mérica Mérica”, nasceu na Itália e fez parte das primeiras gerações de imigrantes da Colônia Caxias. Ele passou grande parte de sua vida na comunidade do interior de Flores da Cunha, onde está sepultado. Seu nome tornou-se sinônimo de curiosidade para aqueles que visitam a localidade e os empreendimentos turísticos que integram a roteiro colonial Compassos da Mérica Mérica.
Por meio do fortalecimento do turismo e consolidação da história local, com o passar dos anos a comunidade tem assistido e contribuído para uma série de melhorias. Um dos moradores que acompanhou estas mudanças é Mário Facchin, 80 anos, que nasceu e continua vivendo na capela do Carmo. Ele reside com a esposa, que também é natural dali, Maria Helena Giachelin Facchin, 76 anos.
— Eu me recordo de quando ainda tinha aquela igrejinha pequena de madeira, tipo um capitel. Eu nasci em 1945 e aquela igreja ali (atual) foi construída em 1950 ou 1951. Depois, foi desmanchada (a antiga igreja) e, com aquela madeira, fizeram um pedacinho do salão. Quando os pedreiros começaram a construção da Igreja o pai (José Facchin) me chamava para ir ajudar a botar tijolo em cima de uma pá de madeira para jogar para cima — relembra.
O aposentado conta que a comunidade construiu um salão de 15x8m, mas, três anos depois ergueu um novo espaço, ao lado do anterior.
— Estava tudo bagunçado, porque a cozinha estava em um lugar com o salãozinho para festa, e no outro tinha espaço para festa também, e tinha cancha de bocha. Estava tudo meio “atirado”, aí projetamos para fazer aquele salão grande que tem hoje, em 1992 — destaca Facchin, que em 1997 assumiu a diretoria da comunidade, juntamente com Olinto Pagno e Vilson Capelin.
Naqueles anos, com o intuito de arrecadar verbas para tornar realidade a construção do salão, o trio organizava e realizava duas rifas por ano.
— Ficávamos semanas trabalhando. Fizemos a campanha de doação e quase todos os sócios (50) ajudaram. Inauguramos o salão no cascalho no primeiro ano e só no segundo fizemos o assoalho, que custou um “dinheiraço”.
Além de celebrar as tradicionais festas em honra à Nossa Senhora do Carmo, no mês de julho, e São Miguel, no fim de setembro, a diretoria começou a promover eventos como baile de casais, jantares com cabeça de porco e baile do chope. A ideia deu tão certo que os eventos passaram a fazer parte do calendário da comunidade, alguns reúnem mais de 700 pessoas.
“Agora, digo que a gente está na cidade”
Facchin atuou como fabriqueiro e ministro da Eucaristia por diversos anos e teve papel fundamental em importantes conquistas para a comunidade. Em 1965, não havia energia elétrica e ele foi um dos moradores que contribuiu para “puxar a luz”.
— Quando chegou a luz elétrica parecia que estávamos no céu. Daí começamos a usar geladeira, eletrodomésticos e assim por diante.
O morador também esteve à frente de melhorias relacionadas a telefonia rural, a água e na conquista de passe livre para o pedágio que, por muito anos, ficava em São Roque, no km 99,7.
— Nós pedimos que isentassem a Restinga, São Roque, Carmo e fomos a Porto Alegre. Eu tive que ir junto com o Heleno Oliboni (prefeito da época), Mario Giachelin da comunidade da Restinga e também teve um representante de São Roque. Nós fomos lá no Daer e pleiteamos até que conseguimos o cartão (passe livre).
O aposentado opina que a transferência, em 2023, do pedágio para o km 108,2 da ERS-122, em Antônio Prado, trouxe benefícios para toda a comunidade local.
— A região passou a ter mais preferência para indústria, para tudo. O pedágio ter saído dali foi a melhor coisa porque é uma melhora para todo mundo. Até mesmo nas festas o movimento cresceu — exalta.
Outro avanço citado por Facchin foi a chegada do asfalto, há uma década.
— Agora, digo que a gente está na cidade. Só vejo que o povo deveria se conscientizar e participar mais da comunidade. Muitos dizem: “Ah, mas eu vou lá trabalhar na sociedade e não ganho nada”. A gente não tem que visar só o dinheiro. O dinheiro é bom, mas também só dinheiro não adianta — opina o aposentado, que teme pelo futuro das comunidades.
Por conta de problemas de saúde o morador transferiu o legado do trabalho comunitário para a esposa, que ajuda na cozinha e foi zeladora da igreja por mais de 15 anos, e os três filhos. Eles colaboram com a comunidade que hoje conta com 30 associados.
— Eu me criei aqui e gosto de morar aqui porque tem tranquilidade, tem segurança, a comunidade é tudo gente legal. A gente se dá bem com todo mundo — enaltece.

