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A força da agricultura familiar no coração da Linha 60

Enio Stocco é homenageado como Agricultor Destaque 2025 no Dia do Colono e Motorista
(Foto: Klisman Oliveira)

O Dia do Colono e Motorista, é um lembrete do valor de quem faz girar as engrenagens do interior. Os que alimentam e os que transportam. É uma data que reconhece a força de homens e mulheres que constroem o país pelas beiradas. Entre parreirais, lavouras, estradas e caminhões.
Neste ano, na Terra do Galo, o representante deste reconhecimento é Enio Stocco, 65 anos, agricultor da Linha 60, que foi homenageado pela Câmara de Vereadores com o Certificado Agricultor Destaque 2025. Natural de São Jorge, mas há mais de quatro décadas no interior florense, ele é daqueles que sabem o valor do chão que pisam.

— Eu vim para Flores da Cunha na década de 1980, como empregado. Hoje, graças a Deus, tenho a minha terra aqui. Trabalhei 17 anos na família Tomazzoni. Tenho muita gratidão a eles por terem me ensinado a trabalhar. Do jeito que eu aprendi, foi com eles — relembra.

A história de Enio é, acima de tudo, de continuidade. Não apenas no trabalho, mas nos vínculos que construiu e sustentou. A vida rural, para ele, nunca foi solitária. É feita em conjunto, com a esposa Libera Dal Agnol Stocco.

— O trabalho é um pouco de cada um, né? Na hora de vir na roça, na colônia, ela vem junto. Na hora que vamos para casa, ela vai um pouco antes. Quando vou embora é para me deitar no sofá e ela vai atrás dos almoços e das coisas. Mas ela ajuda no campo também, sem dúvida. E hoje a gente tem a ajuda do meu filho e da minha nora também — descreve, sorrindo ao falar da parceria com a família.

— Hoje nós temos um funcionário de carteira assinada trabalhando com a gente, mas geralmente precisamos é de diarista. Quando estamos mais apurados, contratamos em momentos específicos, como para o plantio da cebola — comenta.

Na terra que cultiva, há espaço para muitas cores e sabores. A diversidade da produção é motivo de orgulho: uva, pepino, pêssego, tomate, cebola e até pêra; esta última, um diferencial que poucos cultivam.

— A nossa produção é bastante diversificada. Temos três variedades de uvas, cinco variedades de pêssego, a gente tem pêra, duas variedades de tomates. Cultivamos pepino e cebola também. Aqui na nossa região, pêra é um que outro que produz, então é um diferencial da gente — detalha o agricultor.

“O pequeno agricultor está meio esquecido”

Mesmo com toda essa riqueza de produção, os desafios se impõem. O clima instável, as exigências do mercado e a dificuldade de comercialização tornam o dia a dia no campo uma batalha.

— Para nós, que somos considerados pequenos agricultores, há grandes desafios. A venda da produção, especialmente no último ano, está se tornando um negócio um pouco ruim. O comércio não está mais fácil de negociar, o mercado é cada vez mais exigente e a gente tem que produzir sempre com extrema qualidade para ter a renda certa. Só que ultimamente o clima também tem nos atrapalhado muito. Um ano é muita chuva, outro ano é seca. Mas, damos a volta e vamos tocando — relata, com realismo, mas também com esperança.

Enio ainda aponta para uma realidade que o preocupa: o futuro da agricultura familiar e o êxodo dos jovens.

— O pequeno agricultor está meio esquecido. Teria que ter um aporte maior por parte do governo para se manter na agricultura. Da forma como estamos, infelizmente, acho que em 10 anos, a agricultura da nossa região tende a fracassar. Aqui por perto tem dois ou três rapazes mais jovens tocando o campo, o resto foi para a cidade. A sucessão familiar é um problema grave — alerta.

O agricultor, que cultiva cerca de nove dos 12 hectares da propriedade, ainda acredita no avanço de soluções como o sistema antigranizo, que pode trazer mais segurança para quem vive da lavoura.

“Todos agricultores merecem”

Ao ser informado da homenagem como Agricultor Destaque 2025, Enio reagiu com a simplicidade de quem sabe o valor da terra, mas com a emoção de quem não esperava ser lembrado entre tantos.

— É um grande orgulho, né? O município do tamanho de Flores da Cunha, com todos os agricultores que têm… Claro que todos os agricultores merecem esse certificado, mas me escolheram para receber, então fico muito contente. É um reconhecimento — agradece.

Mesmo em meio a tantas dificuldades, ele cultiva esperança e faz um chamado àqueles que compartilham da mesma lida, os colonos e motoristas que movem o interior:

— Se eu pudesse deixar uma mensagem aos colonos nesse dia tão importante, seria de união. Para nos unirmos um pouco mais. Trabalhar um pouco mais juntos para ver se conseguimos enfrentar os desafios que, acredito, teremos pela frente — convoca.

Neste dia do colono e motorista, a história de Enio ganha visibilidade para representar tantas outras que sustentam o interior. Ele carrega a força da família, da terra que o acolheu e da lida diária de quem planta esperança para alimentar o mundo.

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