Terezinha e Renato Bordin observam a capela desativada há seis anos. (Foto: Karine Bergozza)
A história da aposentada Terezinha Santina Corradi Bordin, 86 anos, mescla-se com a do travessão Lagoa Bela. Uma das moradoras mais antigas, ela é referência e colabora com os eventos promovidos pela comunidade desde os 13 anos.
— Naquele tempo eu ia ajudar a fazer capeletti para as festas, porque a gente fazia tudo a mão. Depois, quando maior, comecei na cozinha, lavar louça e buscar água. Tinha que buscar água nos vizinhos que emprestavam porque lá no antigo salão não tinha — lembra.
Terezinha recorda que, de uma forma ou de outra, sempre esteve presente na comunidade. Por oito anos, por exemplo, atuou como Ministra da Eucaristia.
— Até dois anos atrás eu ainda ajudava bastante, mas agora não mais porque as pernas não me ajudam — brinca.
A moradora acompanhou de perto os três lugares que a capela local ocupou, bem como as duas edificações do Salão Comunitário de Lagoa Bela.
— A primeira capela foi naquele terreno dos avós do doutor Antoninho Falavigna, perto de onde tinha uma cascata com um moinho. Lembro que alagou tudo e o padre não podia vir rezar a missa, ninguém ia para lá nem para cá. Então as seis famílias que tinham na comunidade resolveram falar com o pároco, que era o Frei Eugênio, e transportaram a capela para um outro lugar — relata.
Este segundo local que abrigou a capela estava localizado há cerca de 1 quilômetro de onde está hoje. Neste ponto também foi erguido o primeiro salão comunitário, construído em duas etapas e que também dividiu espaço com uma cancha de bochas.
— O problema é que começaram a roubar lá. Entraram no salão e levaram as louças, as panelas, terminaram com tudo. Também saquearam a capela e roubaram os cálices que se colocava a hóstia — conta Terezinha.
Diante dessa situação, a comunidade se uniu para, mais uma vez, transportar a capela para um novo local, onde está hoje. O salão comunitário, por sua vez, foi reconstruído pelos moradores há cerca de 20 anos.
— O pessoal falava que se ninguém doasse um terreno a gente não iria mais fazer nada (salão e capela). Eu doei esta terra e, aos poucos, fomos fazendo. Tinha os que ajudavam como pedreiros, colocando os tijolos, os que levavam os materiais e os serventes. Todo mundo ajudou a levantar o salão e uns seis meses depois estava pronto para a festa de Nossa Senhora do Bom Conselho, que é celebrada em abril — conta a engajada moradora.
Nova capela para abril
Atualmente, o neto de Terezinha, Renato Bordin, 37, dá sequência ao trabalho da avó. Ele e a esposa, Salete, foram festeiros em duas festas da comunidade e fazem parte das comissões.
— Hoje é difícil encontrar gente para trabalhar e ajudar. Isso não é só para festa, mas também para assumir o ano inteiro. Então, junto com outras pessoas, foi montada uma comissão e as decisões partem dessa comissão junto com o conselho, envolvendo sempre a comunidade — relata Bordin.
Hoje, a união da comunidade do travessão Lagoa Bela conta com mais de 40 famílias associadas. A comissão que Renato Bordin integra é dedicada, especialmente, aos assuntos relacionados a construção de uma nova capela para comunidade. A “velha” capela que já passou por três locais de Lagoa Bela não é mais utilizada há seis anos diante do risco de desabamento. A expectativa é que as obras do novo local devem iniciar até abril.
Rótula de acesso, iluminação e tratamento de esgoto são necessidades

Terezinha e Renato Bordin no ponto em que há necessidade de implantação de uma rótula. (Foto: Karine Bergozza)
Terezinha e Renato Bordin sempre moraram na comunidade e exaltam a tranquilidade e calmaria para viver, diferente de um bairro maior, no qual as pessoas não se conhecem.
— Ainda dá para considerar a comunidade como de interior. A gente tem confiança em morar aqui porque conhece praticamente todas as pessoas, podemos deixar a porta aberta que não tem problema, é seguro — exalta Renato.
Avó e neto também mencionam a melhoria de vida na região desde a chegada do asfalto, na década passada. O calçamento com bloquetos em frente ao salão, realizado no final do ano passado, e construção do parquinho também ajudaram bastante, contudo algumas ações ainda precisam ser realizadas, sobretudo para evitar acidentes.
— Uma rótula seria bem importante para a entrada da comunidade, para a travessia do Granja União para cá. Também tem um degrau de uns oito centímetros para sair da ERS-122, tanto para vir para Lagoa Bela como para ir para o Granja União — considera Renato, que prossegue sobre o trânsito:
— O asfalto também a gente vê que abre bastante buracos, a própria Corsan faz isso e demora para fechar. Enquanto não solicitamos, eles não vêm (finalizar). Outra coisa é que no projeto inicial do asfalto tinha calçada para os dois lados, mas na execução da obra ficou só para um — complementa Bordin.
Outro ponto levantado é a necessidade de limpeza de vegetação da ciclovia, onde o mato está alto, além da questão da iluminação.
— Tem algumas lâmpadas queimadas na ciclovia. Para cá, no lado onde a gente mora não tem nenhum poste com luz, só do outro lado, onde tem o loteamento — frisa o projetista.
Terezinha concorda com as solicitações do neto e acrescenta a necessidade de melhorar a questão do saneamento, afinal o rio do lado da antiga capela, onde eram feitas festas da comunidade, se transformou em um esgoto a céu aberto.
— Desce todo o esgoto da cidade por ali e apesar de estarmos em uma área que não tem tanto cheiro, porque a água corre, às vezes tem um pouco e isso prejudica o crescimento do bairro. Precisaria tratar essa água ali — opina.
Ouvir a comunidade de Flores da Cunha, conhecer os aspectos positivos de cada bairro e comunidade, saber o que está bom e quais as principais demandas da população. O caderno Bairros e Comunidades volta a circular com esta missão: aproximar o jornal dos munícipes. A publicação será sempre na última edição de cada mês, para tal, o município foi dividido em 11 regiões.
Na estreia, os moradores de Sete de Setembro, Serra Negra e Lagoa Bela contam sobre as vantagens de morar em áreas mais afastadas do Centro da cidade. Orgulho comunitário que também se reflete nas demandas e cada morador relata as principais melhorias de infraestrutura que as localidades poderiam receber.
Leia as outras matérias do caderno:
- Travessão Sete de Setembro se mobiliza para manter o prédio da escola em funcionamento
- Mãe e filha, contam como é morar em Sete de Setembro
- Comunidade de Serra Negra conta os dias para receber o asfalto
- Empresária reivindica mais atenção dos órgãos públicos para Serra Negra
- Restaurante em Lagoa Bela aposta na conexão com a natureza
- Vinícola Cooperativa conta como é sua relação com Lagoa Bela