Com sua conhecida voz potente capaz de silenciar um salão, o deputado federal Alceu Moreira (MDB) visitou Flores da Cunha na tarde desta terça-feira (25). O encontro com partidários é a sua forma de fazer política, olhando no olho e passando suas ideais, principalmente sobre o cenário nacional.
A reunião no bairro São João contou com a presença do prefeito de Nova Pádua, Itamar Bernardi Kiko, dos vereadores de Flores da Cunha, Ademir Barp, Claudimir Kremer Alemão e Valdecir Paulus, e o ex-prefeito Lídio Scortegagna, que é o atual presidente do MDB na Terra do Galo.
Na passagem, o deputado conversou com a reportagem do jornal O Florense sobre os movimentos da política nacional. Confira trechos da entrevista:
O Florense: Qual o motivo da visita a Flores da Cunha?
Alceu Moreira: Tenho 71 anos e faço política a vida inteira assim. A gente usa o rádio, o jornal e a rede social, mas não tem nada que substitui o que estamos fazendo aqui agora. Os companheiros deixam o que estão fazendo no dia de semana, vem aqui nos receber, manifestar carinho, estar junto com a gente, cumprimentar e poder conversar olhando no olho. Tenho muito orgulho de estar aqui. E, é claro, como andamos pelo Brasil inteiro, espero poder passar algumas informações para os companheiros sobre a nossa opinião. Isso não significa dizer que isso vai acontecer, mas é o que nós pensamos sobre o processo. E trazer alguns recursos, porque, mesmo na oposição, a gente sempre traz. Ouvir muito e poder explicar aquilo que acreditamos ser verdade e o que irá acontecer.
Próximo de mais uma eleição federal, o deputado acredita que a política mudou muito?
O que está mudando na política nacional é esta enorme quantidade de partidos, 30 e poucos partidos, que, na verdade, só tratam de interesses em troca de emenda ou coisa parecida, pois não tem nenhuma linha ideológica. Um partido político é uma parte que pensa a sociedade ideal sobre o seu ponto de vista. O MDB de Flores da Cunha pensa o que é a sociedade ideal para Flores da Cunha. Isso é um partido político. Ele formula a política pública, discute com a população e tem um jeito de governar que é do MDB. Não existem mais do que cinco correntes ideológicas no Brasil.
O cenário muda com estas fusões e federações nacionais?
O motivo maior é a presidência da República. Esse povo está de olho na presidência da República. O MDB tem tudo para fazer a composição com o Republicanos. O PSD não está querendo fazer federação, porque está esperando que os descontentes da briga entre as outras federações, nos estados, venham para ele. E, então, ficará com um partido gigante. Se observar, as cinco frentes de centro-direita estão se organizando. Temos o (Ronaldo) Caiado (governador de Goiás), o (Romeu) Zema (governador de Minas Gerais), o Ratinho (Júnior, governador do Paraná) e temos o Tarcísio (de Freitas, governador de São Paulo). Na minha visão, o Tarcísio está querendo ser obrigado a fazer o que ele mais quer. Ele não vai dizer que é candidato e não vai ferir os brilhos do Bolsonaro, vai dizer sempre que é candidato a governador de São Paulo de novo, mas, com certeza, esse tabuleiro todo desses cinco eixos estão na volta dele, do Tarcísio. Se ele for o candidato, ele ganha a eleição. E acho que ganha no primeiro turno.
Como mudar esse momento belicoso da política nacional?
A vinda do Tarcísio (a presidente) sepulta o projeto que temos hoje, que é essa discussão estéril entre a Bíblia e o Código Penal. Ou é costume, ou é roubo. É impossível sentar para conversar política no Brasil, conversar com a pessoa sobre o que tu concorda. É sempre uma discordância. É sempre falando mal do outro. Como é que tu pode construir assim? Não existe como construir politicamente se tu não tiver a condição de sentar na mesa. Por maior que seja o meu adversário, eu tenho que ter o direito de sentar na mesa com ele e dizer: vamos combinar, vamos conversar primeiro sobre o que concordamos e, depois, conversamos sobre o que discordamos. A política do jeito que está, centrifuga os bons. Não tem ninguém bom, qualificado, que esteja tomando decisão pelo governo. Que projeto de país tem hoje? Quem de nós sabe o que vai acontecer amanhã? Quem tem segurança? Não é segurança jurídica. Não tem segurança institucional. Os poderes não sabem qual é o seu direito e o seu dever no processo. Isso é quase um processo anárquico. Esse processo fadigou e a população começa a perceber isso.
O que o MDB está fazendo para mudar esse cenário?
Como presidente da Fundação Luiz Guimarães, estou desenhando junto com Aldo Rebelo e mais um grupo de pessoas, um projeto chamado “O Brasil precisa pensar o Brasil”. Iremos escrever que educação nós queremos daqui para frente. Como é que temos uma escola? Que seja um espaço de descoberta e vida e que gere igualdade de oportunidade a todas as crianças. Como é que eu vou ter saúde? Primeiro trabalhar a prevenção, depois doença. Como é que financia isto? Mas financiar de maneira republicana. Do Ministério, no Estado e no Município. De ponta a ponta, tudo complementar. Como é que faz isso? Escreve sobre isso. Tem que ter uma política ambiental com sustentabilidade, social, ambiental e econômico. Tem que escrever sobre isso. Como será a segurança pública no Brasil? Tem que escrever, tem que mostrar claro como será a segurança pública. Quando chegar em outubro, o MDB terá um projeto de país e vai pegar estes seis ou sete eixos para mostrar claramente o que é um país. Somos um partido que tem vocação por empreendedorismo com profunda responsabilidade social. Somos empreendedores, mas nós enxergamos a população e temos responsabilidade social. Vamos desenhar esse projeto inteiro e entregar esse projeto para o Brasil. Quem for candidato à presidência da República, pode inclusive ser um nosso, vai ter que ter o nosso projeto ou terá que apresentar um outro projeto semelhante. Aí teremos um documento para poder criticar e a população, no próximo governo, vai saber quais são os passos desse governo. Estará escrito.