A missão terrena do argentino Jorge Mario Bergoglio, o papa Francisco, terminou às 2h35min, no horário de Brasília — 7h35min no horário do Vaticano — desta segunda-feira (21). A notícia de que a jornada do líder da Igreja Católica, havia chegado ao fim aos 88 anos, no Vaticano, foi lida pelo Camerlengo, cardeal Farrell. A causa da morte está prevista para ser divulgada na tarde desta segunda-feira.
O comunicado oficial veio da Capela da Casa Santa Marta, local onde o pontífice escolheu viver desde sua eleição, em 2013, rejeitando os aposentos palacianos em nome da simplicidade. A Sala de Imprensa da Santa Sé informou que, ainda nessa segunda-feira, às 20h, será realizado o rito da constatação da morte e o depósito do corpo no caixão, com a presença de familiares, do decano do Colégio Cardinalício e da Direção de Saúde e Higiene do Estado da Cidade do Vaticano.
— Queridos irmãos e irmãs, com profunda tristeza devo anunciar a morte de nosso Santo Padre Francisco. Às 7h35min desta manhã, o Bispo de Roma, Francisco, retornou à casa do Pai. Toda a sua vida foi dedicada ao serviço do Senhor e de Sua Igreja — lamentou o cardeal Farrell.
A trasladação do corpo para a Basílica de São Pedro, para que os fiéis possam prestar suas homenagens, deve acontecer na manhã de quarta-feira (23). A cerimônia solene seguirá os ritos estipulados na Constituição Apostólica Universi Dominici Gregis, incluindo a destruição dos símbolos do pontificado e o início da preparação para o conclave que escolherá seu sucessor.
Um papa que iniciou processos

(Foto: Vatican Media, divulgação)
Francisco não foi apenas o primeiro papa jesuíta, o primeiro latino-americano ou o primeiro a suceder um pontífice vivo. Ele foi o primeiro a afirmar que o verdadeiro poder na Igreja era o serviço, e a desenhar um pontificado com base na escuta, na colegialidade e na misericórdia. “Do fim do mundo”, como se apresentou ao mundo da sacada da Basílica de São Pedro, iniciou com o povo e para o povo o seu caminho de doze anos.
Sua marca foi a da abertura: à humanidade ferida, aos marginalizados, aos que estavam fora dos muros. Em seu pontificado, lançou a Evangelii Gaudium, abriu Sínodos participativos e revolucionou a Cúria Romana ao incluir mulheres e leigos em posições decisivas.
Abriu portas simbólicas, como a Porta Santa em Bangui, em meio à guerra civil, e físicas, indo onde ninguém havia ido: ao Iraque, às periferias de Roma, às prisões. Visitou os campos de refugiados, abraçou doentes e sorriu com crianças em todas as partes do mundo. Mesmo com a saúde fragilizada, enfrentou 47 viagens internacionais, percorrendo mais de 30 mil quilômetros apenas em sua última peregrinação pela Ásia e Oceania.
A fragilidade dos últimos dias
Nos últimos anos, o corpo já não respondia ao ritmo das intenções. Internações frequentes, dificuldades respiratórias e dores no joelho o levaram à cadeira de rodas. Em fevereiro deste ano, uma bronquite reduziu-lhe a voz. Ainda assim, no domingo de Páscoa (20), apareceu inesperadamente na Praça São Pedro. Um gesto final de amor ao povo. Um adeus sem dizer.
Depois de 38 dias internado com pneumonia dupla no Hospital Gemelli, retornou ao Vaticano apenas vinte dias antes de sua morte. A luta pela vida foi discreta, como o era sua forma de governar: “a partir das margens”, como gostava de dizer.
O líder que dizia “todos, todos, todos”

(Foto: Vatican Media, divulgação)
A tendência é de que a voz de Francisco siga ecoando nas reformas, nas canonizações e nas palavras de inclusão. Foi o papa que acolheu os divorciados recasados, que chamou à Igreja os LGBTQIA+, que defendeu os migrantes e se pôs frontalmente contra a pena de morte. Que dialogou com muçulmanos, judeus, budistas e agnósticos. Que assinou com Al-Sistani a Declaração de Fraternidadee que abordou o tema da crise climática.
Que, ao falar de guerra, não usava eufemismos: “A guerra é sempre uma derrota”. E dizia isso com o tom de quem via a dor do mundo de perto, e levava essa dor nas preces, nos discursos e nas lágrimas.
O futuro que o espera

(Foto: VATICAN MEDIA Divisione Foto, divulgação)
Com a morte do papa Francisco, a Igreja entra oficialmente no período conhecido como Sede Vacante. Os aposentos papais serão lacrados, e o governo da Santa Sé será temporariamente assumido pelo Camerlengo. O Colégio dos Cardeais se reunirá nos próximos dias para organizar o funeral e iniciar a preparação para o conclave que escolherá o novo sucessor.
Também foi suspensa a celebração de canonização do Beato Carlo Acutis, prevista para o próximo domingo (27), durante o Jubileu dos Adolescentes.
Francisco desejava descansar aos pés de Maria. Como ele mesmo pediu, será sepultado na Basílica de Santa Maria Maior, diante do ícone da Salus Populi Romani, onde tantas vezes rezou antes de suas viagens, pedindo proteção para o povo.