Por Maísa Gelain Marin, Doutora em Psicologia:
A palavra “ansiedade” tem sido amplamente utilizada em diferentes contextos. Mas, será que sentir-se ansioso é totalmente ruim? A ansiedade é uma emoção comum, que tem uma função protetiva, e, portanto, é importante senti-la. O processo de evolução da espécie exigiu de nossos ancestrais o desenvolvimento de estratégias para a própria proteção, e isso ocorreu até em nível cerebral.
Quando expostos a algum possível perigo, um sistema de ameaça cerebral era ativado, causando sintomas físicos que preparavam o sujeito para lutar contra esse perigo ou fugir dele. Dentre os principais sintomas estavam a aceleração dos batimentos cardíacos, com a função de estimular a circulação sanguínea para os músculos e preparar o corpo para a fuga ou para o ataque.
Além disso, a respiração ficava mais acelerada e o processo de sudorese aumentava, facilitando o deslize do corpo em casos de luta. Além disso, eles precisavam estar sempre alertas, uma vez que o perigo poderia surgir em momentos menos esperados, e, muitas vezes, faziam previsões de piores cenários (preocupações), justamente para evitar ataques. Tudo isso, para fins de preservação da espécie.
Vejam que os sintomas descritos são exatamente iguais aos relatos das pessoas que sentem ansiedade nos dias de hoje. Taquicardia, respiração acelerada, sudorese, hipervigilância, preocupações e previsões de futuro negativas. Vivemos em uma sociedade marcada por transformações constantes, que incluem avanços significativos em áreas tecnológicas. Esse fenômeno reflete em sair da homeostase, ou seja, sair da zona de conforto, e, portanto, a ansiedade vira rotina.
A ansiedade é muito funcional em nosso dia a dia, uma vez que ela nos prepara, auxilia no planejamento e na tomada de decisões. É comum ficar ansioso quando você fará determinada ação pela primeira vez e até ficar ansioso para sair de férias, por exemplo. Ficar ansioso para fazer uma prova ou participar de uma reunião faz com que você se prepare para isso. O importante saber é diferenciar a ansiedade comum e natural, da disfuncional.
A principal diferença entre elas é que, na ansiedade disfuncional, a hipervigilância e os sintomas citados acima se mantêm todos os dias, o tempo todo, por um período de tempo, em diferentes ambientes e causam prejuízos significativos, dificultando a realização de atividades pessoais, profissionais e de lazer. A preocupação excessiva gera tensão muscular e desconforto extremo, podendo até colocar o sujeito em risco por “acelerar” demais.
Se você percebe que apresenta estes sintomas, busque ajuda de profissionais especialistas, como o psicólogo, por exemplo.
E quem é? O que faz o psicólogo?
O profissional da psicologia, por muito tempo, foi visto como alguém que somente trabalhava com transtornos graves, e, por esse motivo, ainda existem generalizações associadas à profissão.
Falas do tipo: “não vou procurar ajuda de psicólogo porque não estou louco” ou “eu dou conta sozinho, não preciso ‘gastar’ com isso”, expressam resistência. Além disso, sabe-se que buscar um profissional da área não é sinal de fraqueza, mas sim de coragem e abertura para mudanças e transformações na maneira como você percebe os fenômenos, pensa, sente e se comporta frente às diversas situações do cotidiano e às relações que permeiam nossa vida.
A psicologia proporciona espaços de escuta técnica, intervenções adequadas e trocas, que são seguras, uma vez que é uma profissão sigilosa, que respeita o sujeito em sua singularidade. Ademais, é baseada na ciência e, por isso, busque por profissionais competentes, devidamente registrados em Conselhos Regionais de Psicologia (CRP) e que estejam sempre em constante desenvolvimento.
Como profissional, deixo algumas dicas simples que podem auxiliar na redução de sintomas de ansiedade intensos: concentre-se em seu corpo e suas reações fisiológicas, aproveite os momentos, permanecendo no aqui e agora, aprenda a respirar voluntariamente, faça exercícios físicos e busque psicoterapia, quando desejar.